Friday, 16 April 2010

Entrevista com Borges em 1980


Quarta-feira, 19/8/2009
Entrevista com Borges em 1980

Borges e Osvaldo Ferrari, Diálogos
Julio Daio Borges
Quinta-feira, 15/4/2010
Quando se lê Platão e se descobre Sócrates, a primeira sensação é de que a arte do diálogo se perdeu através dos séculos. Como disse alguém, Sócrates é uma grande presença cênica (muito difícil encontrar uma pessoa que se iguale). Mas Borges, nosso contemporâneo no século passado, esteve muito próximo disso, se não reviveu a velha arte, com seus próprios diálogos. Wittgenstein, nos seus últimos anos, concluiu que não conseguia mais escrever filosofia, mas que ainda poderia falar sobre ela. E fez isso enquanto pôde. Borges, apesar da cegueira (que não o abateu), continuou "escrevendo", ditando textos seus, mas talvez tenha se especializado em falar de literatura, mais do que qualquer coisa. Se, em anos recentes, a Globo retomou os diálogos com Ernesto Sabato (que enfrentava Borges, mas que não estava à altura dele), em 2009, a Hedra trouxe uma caixa com os diálogos de Osvaldo Ferrari (que, mais sábio, deixou Borges falar livremente). Cada volume, em princípio, enfoca um tema ("Amizade", "Filosofia", "Sonhos"), mas a melhor ideia talvez seja percorrer o índice e ouvir o bruxo argentino no ponto certo. São especialíssimas suas considerações, por exemplo, sobre Spinoza, Virgílio, Sócrates (claro) e Flaubert. Ainda que ele se debruce sobre contemporâneos seus como Kafka, Bertrand Russell, Rubén Darío e Bioy Casares (naturalmente). Registrados entre 1984 e 1985, os diálogos pegaram Borges, exatamente, no penúltimo e no antepenúltimo ano de sua vida, quando já havia atingido, praticamente, um estado de clarividência. Exalava literatura, filosofia e erudição por todos os poros e escutá-lo nunca era uma perda de tempo. Com a televisão cedendo ao populismo há décadas, o rádio decaindo na inércia da indústria musical e os nossos jornais virando pó com a internet, só o YouTube nos permite, de relance, imaginar o que teria sido Borges naqueles tempos. Daqui a pouco, estaremos tão longe dele quanto estamos de Sócrates - o que lhes permitirá um encontro, nem que seja, nas esquinas do pensamento.

Box - Dialogos Borges

No comments: